Quando a Xiaomi lançou sua primeira Mi Band, em 2014, tive a impressão de que era um produto dispensável, e adquiri uma apenas por não resistir a novidades tecnológicas, principalmente as mais acessíveis. Era uma pulseira preta com módulo bluetooth cinza, sem qualquer tipo de tela, que media meus deslocamentos e registrava os resultados em seu app, o Mi Fit. Ela tinha a premissa de tornar a vida dos usuários mais ativa, devido às metas de exercícios que eram estabelecidas pelo aplicativo. Depois de usá-la por algumas semanas, não a dispensei, embora também não tenha me tornado mais ativo. Acabei curtindo funções como os alarmes através de vibração no pulso, que me acordavam sem sustos ou me avisavam de quando meu telefone, sempre em modo silencioso, recebia uma ligação.

Imaginava que uma "pulseira inteligente" era um produto que não tinha muito espaço pra se expandir ou inovar. Com o passar do tempo, entretanto, novas versões da Mi Band mostraram que pequenas adições fazem diferença, e a quarta geração é um produto interessante desse progresso.

O que é a Mi Band 4?

Para quem não é familiarizado, um resumo. Esta é uma pulseira que tem, ao centro, um módulo principal dotado de sensores: um que detecta movimentação, outro para medir proximidade e mais um que lê batimentos cardíacos. Fechando o pacote, há um motor de vibração para avisos em geral. Além disso, desde a segunda versão, Mi Bands contam com uma telinha, que evoluiu até a Mi Band 4. Dessa forma, temos aqui uma espécie de smartwatch simplificado, que contabiliza exercícios, ativa alarmes e exibe informações úteis em conjunto com um celular.

Existem algumas novidades em relação à antecessora: entre as principais, agora a tela é colorida e maior, uma AMOLED de 0.95 polegada com resolução 120x240 pixels. E, principalmente, o software recebeu melhorias, que incluem novas funções e maior fluidez visual. Vamos falar de como esse conjunto se sai na prática.

Ficha técnica

  • Resistência a água: IP68
  • Tipo: OLED
  • Tamanho: 0.95
  • Resolução: 120x240
  • Bateria: 135 mAh

Xiaomi Mi Band 4 - Veja aqui a ficha técnica completa

A experiência com a pulseira

Este é um item confortável de se usar. Pequeno, leve (22g) e com muitos ajustes de tamanho em sua fivela, pode passar despercebido ao longo do dia. Costumo usá-lo todo o tempo, até mesmo no banho ou na piscina, quando sua resistência a água (5 ATM) entra em ação. Tem uma tela que ainda não é tão vibrante como a de um Apple Watch ou similares, é preciso algum esforço para visualizá-la sob o sol, mas ainda considero um resultado adequado, que dificilmente compromete. A maior área do display dá um pouco mais de conforto para se navegar entre os menus do sistema, facilitando a ativação de cronômetros ou o início de atividades direto do pulso.

A parte do "passar despercebido" varia a depender da quantidade de avisos que ela está configurada para disparar. Em meu caso, alguns: Uber, Mercado Livre, DMs do Instagram, alarmes e chamadas telefônicas são as principais fontes. É bastante útil receber avisos desse tipo de aplicação, e a tela faz um trabalho razoável, levando em conta seu tamanho e sua disposição vertical. Algumas falhas de formatação aqui, uns textos cortados ali e, se não houver grande exigência sobre essas exibições, elas fazem o serviço de informar. Os alarmes e notificações de chamada funcionam perfeitamente, me fazem acordar na hora certa e não deixar ninguém que me liga no vácuo - a não ser que eu queira, ou que a pulseira esteja fora do alcance do bluetooth do celular. Entretanto, percebo que as notificações de apps apresentam um certo atraso, e só surgem na Mi Band um tempo depois de chegarem ao telefone - algo entre 30s e 1 minuto.

O monitoramento de atividades físicas me pareceu entregar resultados com precisão aceitável, embora não tão rigorosos para padrões profissionais. Ao final de caminhadas e corridas, a distância informada pela pulseira tendeu a ser sempre inferior à que eu realmente havia percorrido. A contagem diária de passos, por sua vez, acaba exibindo números superestimados, por incluir na conta movimentos feitos com o pulso quando não se está andando. Essas imprecisões, que acontecem em maior ou menor nível em qualquer smartband, acontecem dentro de uma margem aceitável na Mi Band 4. Mas é válido destacá-las para que se tenha em mente que este é um item para controle de atividades em nível amador.

Se há um trunfo que se mantém desde a primeira geração, este é a duração da bateria, que permanece muito boa por aqui. Em minha utilização, com atividades físicas ocasionais e notificações de apps habilitadas, consegui mais de 23 dias de uso antes de precisar recarregar o produto, algo acima da média de concorrentes de peso, como as bands da Lenovo ou Fitbit.

Sistema e aplicativo

Como já mencionado, a Mi Band 4 roda um sistema levemente melhorado em relação a sua antecessora. Beneficiando-se da tela maior e colorida, esta versão é mais bonita e tem animações fluidas na navegação pelos menus. Por falar em visual, a Xiaomi incluiu, inicialmente, apenas 3 opções de watchfaces para que o usuário personalize sua tela. Entretanto, há um bom número de opções baixáveis no app para celular, e várias outras disponíveis em programas de terceiros disponíveis na Play Store. Com uma telinha um pouco mais capaz como essa, é realmente um barato escolher novas artes.

Além da parte gráfica, também houve implementação de novas funcionalidades. Para os atletas de plantão, esses são os esportes suportados: corrida ao ar livre, caminhada, corrida na esteira, musculação e natação. Este último é uma novidade que chamou atenção de nadadores, que nem sempre são contemplados por esse tipo de acessório e agora podem usar uma Mi Band em sua prática esportiva. Pessoalmente, testei as opções de corrida e caminhada, e percebi que a corrida ao ar livre retornou resultados um pouco mais precisos que a da esteira, certamente por utilizar informações de GPS do smartphone a que a pulseira está conectada.

Além dessas atividades, o sistema também tem entradas para checar a previsão do tempo, os batimentos cardíacos, acessar notificações arquivadas, controlar músicas e algumas funções adicionais, como cronômetro, alarmes e um recurso para encontrar o telefone, que o faz disparar um som chamativo. Comentemos algumas dessas entradas.

Os batimentos cardíacos entregam resultados condizentes com outras opções que testei em simultâneo, como o smartwatch Amazfit Bip ou a smartband Honor 4, opções chinesas também famosas. É difícil atestar sua precisão sem um parâmetro 100% confiável, mas, ao menos, não houve alguns picos de leitura estranhos que percebi na época em que usei a Mi Band 3.

O acesso às notificações arquivadas é uma opção válida, mas limitada, sobretudo quando se trata de checar mensagens do WhatsApp ou Telegram. É pouco prático deslizar o dedo na tela para ler sequências de mensagens enviadas por uma mesma pessoa, e a operação tende a ser confusa. Por isso, costumo dizer que a Mi Band é muito útil para se visualizarem mensagens que acabaram de chegar, evitando que contatos importantes sejam ignorados, mas para checar um arquivo de mensagens, é muito mais prático desbloquear o smartphone e ler tudo na telona.

Uma adição muito esperada feita ao sistema foi a dos controles de músicas, que permitem a manipulação do que toca em aplicativos como o Spotify. Com esse app em funcionamento e tocando algo, basta deslizar pros lados na telinha e surgem opções como play, pause, passar de música e controle de volume. Parece um detalhe mas, no cotidiano, é uma utilidade que surge mais vezes do que se espera, e a detecção da música em execução ocorre com boa velocidade.

Por fim, o Mi Fit, aplicativo para iOS e Android responsável por gerenciar as configurações e informações detalhadas do acessório, não decepciona. Nos últimos tempos, percebo algum esforço da Xiaomi no sentido de torná-lo mais limpo e amigável ao usuário leigo. Ainda há algum trabalho a ser feito, mas, atualmente, eu o colocaria como ponto positivo, por trazer menos abas e ser mais direto ao ponto. Para usuários mais avançados ou dispostos, ainda existe um conjunto de submenus que entrega informações e configurações aprofundadas, embora não fundamentais para o uso. Por exemplo, o monitoramento de sono, que usa os sensores de movimento e o leitor de batimentos cardíacos para determinar períodos de sono leve ou pesado, é algo que fica ativo em segundo plano, mas seus resultados aparecem em detalhes para os que se dispõem a fuçar no app.

Para quem é esse acessório?

Apesar de esse tipo de acessório entrar na categoria dos "fitness trackers", ou monitores de atividades físicas, curiosamente, eu diria que ele se destina tanto a esportistas quanto a quem não se interessa por treinar. O pacote de funcionalidades que inclui notificações, alarmes e controle de músicas, além do próprio relógio, tornam este um item sobretudo para o público geral que deseja entrar no universo dos wearables sem gastar muito. Esportistas talvez já apresentem uma demanda que os leve a opções mais completas, como smartwatches com GPS, embora ainda possam apostar na Mi Band 4 para uma ajuda mais genérica em suas atividades diárias.

Como abordado ao longo do texto, pode haver algum déficit nas medições feitas, ou limitações de navegação por a tela ainda ser pequena. Mas, numa visão geral, as pequenas atualizações feitas desde a primeira geração tornaram esta smartband um gadget pra lá de simpático.

Mi Band 4: Preço e onde comprar

Na data de produção desta análise, a Xiaomi ainda não lançou o produto de forma oficial no Brasil, mas ele é comumente adquirido em importadoras. Para esse tipo de compra, indicamos o marketplace da Amazon Brasil, em que a Mi Band 4 é vendida por valores abaixo dos 200 reais. A julgar pelo valor nacional da Mi Band 3, contudo, é esperável que esta quarta versão chegue por aqui custando menos que concorrentes como a Galaxy Fit da Samsung, criando um apelo de "bom e barato" para um item já conhecido no país.