Ontem, 06/02/2018, presenciamos a história acontecer. Elon Musk cumpriu o prometido e fez seu Falcon Heavy entrar em órbita. O veículo possui nada mais, nada menos do que 27 motores de propulsão capazes de gerar mais de 2 milhões de quilos de empuxo (o equivalente a 18 aviões modelo 747), suficientes para levantar o monstro capaz de transportar até 63 toneladas de carga, ou seja, é o maior foguete - em capacidade de carga - já feito pelo homem.
O custo, caso você queira mandar algo para o espaço embarcado em um FH, é de 90 milhões de dólares por viagem. Mas não pense que isso é caro, não. Além de carregar mais do que o dobro de carga do que o 2º colocado na lista de foguetes de maior carga (o Delta IV Heavy), o lançamento da espaçonave da SpaceX custa 1 terço do valor da concorrente.
A carga deste voo inaugural foi nada mais nada menos do que um Tesla modelo Roadster vermelho. "Um Tesla vermelho para o Planeta Vermelho", segundo Musk. Mas ao chegar lá em cima, ao invés de apenas desprender a carga, a SpaceX fez questão de dar a ela um voo de 6 horas diretamente para o cinturão de radiação de Van Allen.
O motivo foi demonstrar - aos potenciais clientes militares, principalmente - as capacidades de aguentar o tranco e operar em uma zona tão perigosa quanto um local de alta radiação. Em tais locais o combustível poderia congelar e o oxigênio dos tanques (também parte do sistema de ignição) poderia evaporar impossibilitando uma 3ª impulsão necessária em um voo para Marte, por exemplo.
Mas deu tudo certo e o "astronauta" dirigindo seu Roadster segue em órbita, sendo responsável por uma das imagens mais incríveis já feitas na história da humanidade.
Caso você tenha perdido o lançamento, ele pode ser visto neste corte obtido a partir da transmissão que foi ao ar ao vivo pelo YouTube.
Falha ou sucesso na missão?
Falcon Heavy é composto de 3 partes, ou cores, como eles chamam. Cada um dos cores levam 9 motores Merlin (fabricados pela própria SpaceX) e devem operar em perfeita simetria para que tudo dê certo. Se um deles falhar o foguete não tem força para levantar a carga, se 1 dos lados iniciar a queima de combustível 1 segundo atrasado pode acontecer um desvio na estabilidade da espaçonave e até mesmo uma explosão, dependendo da inclinação.
Adendo: Caso você não tenha acompanhado as notícias da exploração espacial nos últimos tempos, Musk tem uma carta na manga que fez a SpaceX ser a empresa de foguetes mais promissora do mundo. Segundo suas contas, mais de 95% do custo de um foguete é referente a peças, fuselagem e motor, ou seja, se os veículos pudessem ser reaproveitados após cada lançamento, o valor de mandar algo ao espaço seria reduzido a preços incrivelmente baixos. Por isso, os 3 cores deveriam retornar em segurança após a decolagem e após colocar a carga em órbita. Para saber mais sobre detalhes sobre esta questão, clique aqui.
Pois bem, os cores laterais pousaram em total simetria, como você pode ver no emocionante GIF abaixo, já o center core teve um "probleminha": o contato com ele foi perdido.
Assim, o destino do módulo central - que estava programado para pousar em uma barca em alto mar - foi um pouco mais explosivo. Segundo Musk o módulo atingiu a água a uma velocidade de quase 500 km/h a cerca de 100 metros de onde deveria pousar em segurança. O problema foi a falta de combustível que acabou antes do previsto e impossibilitou que ele reduzisse a velocidade e se aproximasse em segurança de seu estacionamento.
Porém, nem de longe isso significaria uma falha no lançamento. O objetivo desse voo inaugural era provar que o Falcon Heavy está pronto para operar e colocar a carga que lhe for confiada em órbita. Operar e controlar 3 núcleos de propulsão simultaneamente e garantir que nada desse errado entre eles era, sem dúvidas, o maior desafio e, isto, foi completado sem problemas.
Pousar o material reutilizável e economizar nos lançamentos é um objetivo secundário e pode ser resolvido em uma próxima viagem. Enquanto isso não se deve ignorar o fato de que a empresa conseguiu pousar dois dos três cores.
E agora?
Agora que tudo saiu como o esperado, uma pergunta fica no ar: O que vai acontecer? Quais os próximos passos?
- Bom, custando 3 vezes mais e carregando a metade do que carrega um FH, o já citado Delta IV Heavy agora está muito menos atraente para os militares e para a NASA nos serviços de transporte de grandes cargas úteis. Missões que contariam com o serviço desse veículo agora serão dadas à empresa de Elon
- Da mesma forma, contratos comerciais de carga útil destinados às órbitas geoestacionária e geossíncrona (como satélites), que até então eram dados a Airbus e seu foguete Ariane 5, agora serão repassados a SpaceX
- Mas o melhor não está na redução de preços, mas sim na melhora da qualidade: A próxima geração de satélites geossíncronos agora poderá ser muito mais pesada do que era antes do Falcon Heavy. Isso abre a possibilidade de incluir painéis solares maiores, baterias maiores e mais potentes, mais equipamentos de aferição, etc. Todas as coisas que os cientistas queriam adicionar, mas não podiam por restrições de massa agora estão liberadas
- Outra ponto interessante é que, provavelmente, o orçamento da NASA para missões cada vez mais afastadas do nosso planeta refletirá esse incremento nas condições de lançamento. Por consequência, assim como no caso dos satélites que vimos acima, os cientistas poderão colocar os mais diversos tipos de acessórios, widgets, ferramentas, sensores e tudo o mais que você imaginar nos orbitadores, sondas e rovers que serão lançados daqui para a frente
- E claro, a viagem a Marte está ainda mais perto, já que os custos para transportar tudo necessário à nossa sobrevivência no Planeta Vermelho foi reduzido drasticamente.
Resumindo os parágrafos acima:
- Primeiramente: Peso deixa de ser um impeditivo ao progresso da exploração espacial
- E, para a glória de Elon Musk, a SpaceX posiciona-se como a melhor opção para conquistar os contratos de lançamento que até então não eram possíveis ao Falcon 9, seu veículo lançador leve.
Quanto à falha, algo natural.
Agora a SpaceX terá tempo suficiente para corrigir esse pequeno erro e, em breve, estará preparada para aterrizar os três módulos em segurança, algo que se prevê já no próximo lançamento, que ocorrerá, provavelmente, entre três a quatro meses.
E quanto ao Roadster, segundo Musk, há uma "pequena, pequena chance dele atingir Marte, mas ele vai ficar bem, eu espero".
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