É impossível negar que o mercado de teclados mecânicos tem evoluído muito no Brasil, tanto em aspectos físicos quanto na competitividade dos preços. Cerca de dois anos atrás, caso você tivesse interesse em adquirir um desses teclados que são até hoje considerados um nicho, você teria que desembolsar pelo menos R$600 reais para obtê-lo.
Felizmente, com o passar dos anos essa realidade foi mudando, e hoje em dia encontramos uma variedade muito grande de teclados mecânicos em diversas faixas de preço e para todos os gostos. E dentro deste mercado, que vem se inovando cada vez mais, com teclados cada vez mais coloridos, robustos, barulhentos e com recortes a cada dia mais agressivos, as vezes acontece de encontramos produtos que nadam contra a correnteza, quebrando alguns desses paradigmas de forma bem positiva, um exemplo disso é o Sharkoon Purewriter que iremos revisar hoje.
Design e Construção
Nota: Toda a estrutura externa do teclado é idêntica a versão RGB, portanto muitas partes dessa review estarão extremamente parecidas com a review da versão RGB que você pode ler clicando aqui.
O Sharkoon Purewriter é um teclado ‘’low-profile’’ (baixo perfil), o que significa que seus switches possuem uma viagem de ativação menor que os switches tradicionais, e com isso temos um teclado pouco espesso e compacto, de forma semelhante ao que encontramos em teclado de notebooks (Chiclet), mas com diferenças extremamente notáveis que iremos explorar mais à frente. O mesmo está disponível nos tamanhos full-size e TKL, ambos com iluminação single-color azul e/ou RGB.
Infelizmente o mesmo só está disponível no layout ANSI, o que é compreensível levando em consideração que este é o primeiro mecânico low-profile vendido oficialmente em território nacional.
A primeira impressão que tenho ao utilizar o Purewriter é que tudo em seu design foi pensando para manter o teclado o mais clean possível, mas sem perder sua elegância e beleza. O corpo do teclado é construído quase que inteiramente em plástico, este sendo de boa qualidade, nada fora da esperado, mas o suficiente para não deixar o teclado ‘’entortar’’ mesmo sendo forçado a isto, o que é um belo ponto se considerarmos a espessura do teclado.
Nesta mesma chapa de plástico encontramos a logo da Sharkoon. Suas bordas são feitas em cromado, o que dá um design premium e elegante.
Nas traseira do teclado é onde encontramos o seu cabo, o qual é removível e possui uma entrada ‘’Micro-USB’’, sendo esse um ótimo ponto para um teclado tão barato e que irá solucionar um probleminha que veremos a seguir.
O Sharkoon vem acompanhado de dois cabos, um de 50cm de comprimento e outro de 150cm. Estes por sua vez são de borracha e não são muito espessos, o que me deixa com um certo pé atrás em relação a durabilidade dos mesmos. Porém isso não é um problema tão grande se considerarmos que o teclado possui cabo removível e com uma entrada bem comum. Os conectores são banhados a ouro para evitar oxidação.
A feature do cabo também acaba por ajudar na hora da limpeza da escrivaninha, já que você não precisa desplugar o seu cabo do computador para remove-lo de cima da mesa. Também pode auxiliar à aqueles que utilizam mouses sem fio e não querem ter de se incomodar em procurar um cabo todas as noites para recarregar o mouse.
Em suas costas não encontramos muitos detalhes além do adesivo com as informações do teclado, um outro afirmando que o teclado passou nos testes de controle de qualidade e seus pés de apoio.
E aqui infelizmente já podemos ver um ponto onde o Purewriter acaba pecando: seus pés de apoio. O teclado possui quatro borrachas, desde que você esteja utilizando o teclado com os pés de apoio erguidos.
Lamentavelmente a Sharkoon acabou esquecendo de adicionar os pés de borracha na base do teclado, o que em particular não me trouxe problemas durante meu período com o teclado, porém, caso você deixa seu computador numa superfície um pouco mais lisa (vidro) talvez você precisa utilizar sempre o teclado com os pés de apoio erguidos.
As keycaps do Purewriter são feitas de plástico ABS e possuem impressão a laser; a grosso modo isso significa que as teclas mais utilizadas vão ganhar um certo ‘’brilho’’ com o passar do uso, e que os caracteres não são tão resistentes assim, esse último por conta de impressão a laser, que é menos resistente ao uso que opções como double-shot e dye-sub.
Apesar do Purewriter ser um dos primeiros teclados a utilizar os switches Kailh Choc e ter um preço relativamente barato (o que tornaria considerável o uso de keycaps a laser), outras empresas como a Motospeed e Drevo já estão trabalhando em keycaps double-shot para seus teclados, só que em perfil chiclet.
A fonte escolhida para contemplar o teclado foi uma fusão entre as fontes gamers e uma decisão mais sóbria. Não é o que geralmente vemos em teclados mais clean, mas também passa longe das fontes utilizadas em teclados como Blackwidow Ultimate ou os mecânicos da Motospeed, me lembrando mais o que vejo nos teclados da Deck. A fonte é legível e traz um design bem elegante ao mesmo tempo que conseguem valorizar a iluminação.
Já os seus encaixes acabam por passar uma impressão de fragilidade ao desencaixarmos as keycaps dos switches. Creio que isso se dê mais pela estrutura do switch em si do que pela qualidade das keycaps, já que os switches da LP da Kailh abandonam os stem padrão dos switches ‘’Cherry like’’ (Formato de cruz) e adotam um novo encaixe com duas aberturas estreitas em cada extremidade do switch, fazendo com que as keycaps tenham encaixes relativamente finos.
Creio que não iremos ter problemas com as keycaps em si, mas é sempre bom manter a atenção caso seja necessário remover as mesmas em algum momento, sendo sempre o mais delicado possível no processo, e de preferência sempre usar um removedor especifico para tal tarefa.
Construção Interna: Switches
Chegamos a parte mais interessante da review; onde iremos dissecar o teclado e checar se seus componentes internos são de qualidade, se foram bem soldados em sua PCB e até mesmo checar a organização da mesma.
E vamos direto à grandessíssima cereja do bolo: os switches!
Vou apenas esclarecer alguns pontos: Sim, a Kailh é aquela fabricante que em meados de 2012 pegou uma má fama por produzir switches de péssima qualidade. Porém, com o passar dos anos, a Kailh foi corrigindo seus erros aos poucos e trabalhando em inovações cada vez mais atraentes ao público em geral, afinal, é graças a essa mesma fabricante que temos RGB em teclados hoje em dia. Então sim, a Kailh melhorou, amadureceu e evoluiu como empresa. Em consequência dessa melhora seus produtos tomaram este mesmo rumo. Sua nova linha conta com diversos novos switches com algumas features em particular que são de grande inovação e bom gosto; como a linha ‘’Speed Pro’’, que possui uma distância de ativação mais curta que o habitual, os ‘’Kailh Box’’, que contem certificação IP68 (resistência a agua e poeira) e entre outros que deixarei para explicar melhor sobre num futuro guia de switches mecânicos que irá sair aqui no Oficina.
Entre essas inovações citadas, num passado não muito distante, a Kailh nos apresentou uma novidade muito agradável: switches low-profile. Os switches Kailh Choc nada mais são que uma versão melhorada, atualizada e mais funcional dos antigos switches low-profile da Cherry: Cherry ML. Os Cherry ML foram lançados em meados de 1996 e não foram muito bem aceitos e descontinuados logo após.
Vale citar que apesar de serem baseados nos Cherry ML, os Kailh Choc não são exatamente uma cópia dos mesmo, sendo que utilizam de um sistema de clicky exclusivo da Kailh, tem variações de cores/feelings e um projeto com toda certeza mais robusto que o original.
A versão que tenho aqui é a mais sofisticada entre todos os outros. O switch blue/white conta com um sistema de clicky audível que também será responsável pelo feedback tátil do switch; o mesmo é feito com uma barra metálica (clicky bar).
A housing (corpo do switch) transparente nos permite enxergar o funcionamento do switch, veja:
Creditos do video ao Wetto da PHE
A nova experiência com a clicky bar desde a primeira instancia só me causou alegria; estamos falando de um switch com uma distância curta de ativação, com um feedback auditivo, este que por sua vez possui um volume consideravelmente mais baixo do que o encontrado em switches blue da Cherry/Gateron/Outemu, me lembrando muito mais o som do switch de um mouse do que mesmo de um teclado mecânico.
A ativação do switch vem acompanhada de um ‘’clicky’’ ao pressionar a tecla, este que se repete também no retorno da tecla ao seu ponto inicial, sendo assim, temos um retorno auditivo tanto na ativação quanto no retorno do interruptor, o que acaba se tornando um ponto positivo na hora da digitação pois lhe dá maior certeza de que a tecla foi realmente ativa.
O feedback tátil é sutil e afiado, sendo quase imperceptível durante a digitação, mas táteis o suficiente para você saber que o bump existe e está lá. Certamente este é um switch tátil com um feeling totalmente diferente do que estamos habituados em switches convencionais, como os Cherry Blue ou Brown.
Um dos problemas apresentados por esse switch é sua estrutura de encaixe, que é feita com dois encaixes plásticos provenientes da keycap que são encaixados dentro dos vãos encontrados no switch, sendo o inverso dos switches Cherry, onde o switch adentra a keycap.
Como já citado antes, o problema não vem apenas deste fator, mas sim que estes vãos são extremamente finos, resultando em uma certa aflição ao remover as keycaps do teclado, já que temos de redobrar o cuidado para não danificar as mesmas ou o próprio switch.
Enfim, os ‘’Choc’’ são pra mim uma obra-prima entre os switches que já testei, e para o meu gosto pessoal, o feeling se saiu melhor que os meus antigos Zealios 67g, conhecidos por serem um dos melhores switches stock já comercializados. O Kailh LP é hoje meu ‘’daily driver’’ e meu switch favorito até o momento; com uma ótima experiência para digitação e também para jogos, mas que pode não agradar a todos no primeiro quesito citado por conta da curta viagem de ativação do mesmo.
O switch está disponível nas variantes brown, red e blue.
Construção Interna: PCB
Logo ao abrirmos ao teclado nos deparamos com uma PCB organizada e com certo nível de capricho, sendo o único ponto não tão belo esteticamente uma certa quantidade de resíduo de limpeza utilizado na PCB, o que não é prejudicial a vida útil do teclado. Podemos notar também que o teclado passou por um controle de qualidade manual, ao que indica as ‘’pinturas’’ em sua placa logica.
Suas soldas são bem feitas, não apresentando indícios de solda fria ou coisas do gênero, tudo certo por aqui. Os LED’s são do tipo SMD, que geralmente costumam ter uma qualidade e durabilidade maior que os do tipo 3mm encontrados em outros teclados. Apesar de terem uma qualidade melhor a parte negativa está no fato de que se um desses vier a dar defeito tanto o reparo quando a busca por esses LED’s será dificultada.
Por falar em LED, os mesmos são de cor única (azul escuro), e a MCU responsável por gerenciar seus efeitos de iluminação é um modelo 32 bits da Holtek já bem conceituada e que dá conta do que o teclado exige. Vale mencionar que esta mesma controladora é uma variante de outros modelos mais conceituados e que podem ser encontradas em teclados topo de linha de marcas como a Cooler Master.
Infelizmente (ou não) a Sharkoon não disponibilizou um software para o teclado; por outro lado, sabendo que o Purewriter é uma remarcação de um dos teclados da Dare-U e que o mesmo também foi remarcados por outras marcas, como a Havit e que a mesma possui software, o mesmo acaba por ser perfeitamente compatível com a versão da Sharkoon.
Para aqueles que não forem adeptos à tais gambiarras, o mesmo ainda conta com um ótimo sistema de controle de iluminação via hardware do próprio teclado.
E por fim temos a entrada de energia do teclado, a qual, como já citado, é micro-usb. A mesma encontra-se soldada diretamente na PCB do teclado facilitando o reparo do mesmo em caso de defeito.
Iluminação e features
A iluminação do teclado é feita através de LED’s SMD que atravessam a housing do switch e brilham nas keycaps translúcidas. Como já mencionado, o teclado conta apenas com iluminação na cor azul, essa que possui uma boa intensidade, sendo homogenea e possível de ser enxergada com clareza até mesmo em ambientes mais claros. O teclado conta com uma boa quantia de efeitos de iluminação os quais são muito bem executados pela MCU do mesmo, confira abaixo: O Sharkoon Purewriter se trata de uma grande aposta, tanto da Sharkoon quanto da Kailh ao tentarem reintroduzir teclados mecânicos low-profile no mercado. E é com grande felicidade e um belo sorriso no rosto que eu posso dizer com todas as letras que o mesmo foi um grande acerto; com um switch com features únicas, um design atraente e incrivelmente elegante tanto para aqueles que buscam algo com aspecto ‘’gamer’’ mas sem perder a sutileza e o aspecto sóbrio da coisa, o Purewriter tem o melhor de dois mundos. Logicamente não é um teclado perfeito e tem também seus pontos de críticas, como a fragilidade passada pelas keycaps e o cabo de baixa espessura (que felizmente pode ser substituído com facilidade), porém esses não chegam nem perto de prejudicar a experiência de uso e durabilidade geral do teclado, claro, o mesmo deve ser manuseado com cuidado no momento de limpeza das teclas para que não ajam problemas futuros. Apesar disso, a habituação ao novo layout é bem rápida e fácil de ser feita, e considerando o baixo preço do teclado para tudo que o mesmo oferece, a falta de uma versão ABNT2 ainda é, por hora, justificável. Porém, com um preço de R$275,90 para a versão TKL e de R$342,90 para a full-size; o Purewriter acaba canibalizando o próprio mercado da Sharkoon, pois os preços das versões single-color acabam ficando extremamente próximos das versões RGB, que custam R$279,90 na versão TKL e R$329,90 para a versão full-size (sim, por algum motivo a versão single-color está mais cara que a RGB), tornando inviável a compra da versão com a iluminação mais simples.
Todo o controle da iluminação é feito diretamente pelo teclado utilizando a tecla FN + F1~F12 ,mas também pode ser controlado via software da Dare-U ou Havit. (Dare-U EK820-87 e Havit HV-390L)
As maiores diferenças entre as versões TKL e full-size são o tamanho do teclado (obviamente) e o botões dedicados para funções multimídia na versão maior, as quais são muito úteis para aqueles que querem baixar ou aumentar o som de jogos, vídeos ou musicas de forma rápida, sem precisar minimizar outras aplicações.
(Créditos ao Sávio Coelho do blog phe.com.br)Conclusão
Apesar de ter sido trazido para o mercado nacional, o teclado não conta com uma versão ABNT2, estando disponível apenas na versão americana (ANSI), o que significa que o teclado não possui Ç e nem teclas dedicadas a alguns acentos, os quais terão de ser utilizados com ajuda de alguns atalhos.
Sendo assim, mesmo o Purewriter sendo um teclado acima da média e uma ótima opção dentro da faixa de preço, nossa recomendação fica para o seu irmão mais potente: o Purewriter RGB.
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