Pela primeira vez pesquisadores conseguiram medir os batimentos do maior animal da terra, a baleia azul. Com cerca de 30 metros de comprimento e pesando mais de 180 toneladas, o mamífero marinho apesar de assustar ao se deparar de frente, é inofensivo e costuma se alimentar quase que exclusivamente de Krill (pequeno crustáceo parecido com o camarão, porém menor). O feito foi possível graças a um ECG personalizado com marcador de profundidade personalizado, que possui uma carcaça resistente (para aguentar profundidade dos mergulhos), 4 ventosas para grudar na pele do animal, sendo que duas delas continham eletrodos para realizar as medições e um sistema de transmissão Wi-fi para rastreamento de animais.
Para acoplar o dispositivo de medição, foi um desafio para os pesquisadores, pois as tentativas anteriores só haviam sido feitas em baleias menores ou criadas em cativeiro. O objetivo dos cientistas agora era acoplar o aparelho em um espécime de baleia azul selvagem. Jeremy Goldbogen, professor assistente da Escola de Ciências Humanas de Stanford, diz:
"Sinceramente, pensei que era um tiro no escuro, porque tínhamos que acertar muitas coisas: encontrar uma baleia azul, colocar a etiqueta no local certo da baleia, bom contato com a pele da baleia e, é claro, garantir que tag está funcionando e gravando dados."
With a lot of ingenuity and a little luck, researchers monitored the heart rate of a blue whale in the wild. The measurement suggests that blue whale hearts are operating at extremes – and may limit the whale’s size. https://t.co/PyRdsqh0zU pic.twitter.com/wc2IIEbpe9
— Stanford University (@Stanford) November 25, 2019
Para afixar o medidor ECG, foi utilizado um bastão de fibra de carbono de 6m de comprimento, e inicialmente a equipe de pesquisadores não conseguiram colocar exatamente no local ideal para realizar as medições do coração, mas foi próximo. Com o tempo, eles conseguiram deslizar o dispositivo para uma posição próxima à nadadeira esquerda da baleia, onde foi possível captar os batimentos do coração. Segundo David Cade, recém-formado no Goldbogen Lab, coautor do artigo publicado sobre o experimento:
"Tivemos que colocar essas etiquetas sem realmente saber se elas funcionariam ou não. A única maneira de fazer isso era tentar. Então fizemos o nosso melhor."
Jeremy disse também:
"Não tínhamos ideia de que isso iria funcionar e éramos céticos mesmo quando vimos os dados iniciais. Com um olhar muito aguçado, Paul Ponganis - nosso colaborador da Scripps Institution of Oceanography - encontrou os primeiros batimentos cardíacos nos dados."
O medidor cardíaco ECG e de profundidade registrou 8 horas e 30 minutos dos nados feitos pela baleia azul. Os mergulhos duraram em média 16min e 30 segundos em uma profundidade máxima de 184m e ao chegar à superfície, nadava durante um intervalo de 1 a 4 minutos. Ao nadar na superfície, o mamífero marinho tinha batimentos cardíacos que variavam de 30 a 35 batimentos por minuto (bpm), já ao mergulhar nas profundezas do oceano, seu batimento cardíaco variava em média de 4 bpm a 8 bpm, com um mínimo máximo de 2 bpm (um ser humano tem batimentos cardíacos, em média, de pelo menos 60bpm).
É interessante notar que quando a baleia azul se alimenta, sua velocidade de nado diminui para 5Km/h, enquanto sua velocidade de nado, quando não está se alimentando, gira em torno de 20Km/h. Ou seja, como você pode ver na imagem acima, ao abrir a sua boca para se alimentar de krill, ela diminui seu batimento cardíaco e velocidade, para que seja possível manter a oxigenação no sangue e ao mesmo tempo se alimentar por mais tempo embaixo da água.
De acordo com os pesquisadores, em seu artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), a análise de dados dos batimentos cardíacos da baleia azul sugere que o coração do mamífero está funcionando no limite do órgão, o que explica o porquê as baleias azuis nunca evoluíram para ficarem maiores do que já são. As informações coletadas também sugerem que há algumas características incomuns no coração desta espécie de baleia que podem ajudá-la a funcionar desta forma. Segundo Jeremy:
"Os animais que operam em extremos fisiológicos podem nos ajudar a entender os limites biológicos do tamanho. Eles também podem ser particularmente suscetíveis a mudanças no ambiente que podem afetar o suprimento de alimentos. Portanto, esses estudos podem ter implicações importantes para a conservação e manejo de espécies ameaçadas, como as baleias azuis."
Para o próximo passo na pesquisa, os pesquisadores pretendem adicionar mais recursos ao dispositivo de medições, adicionando um acelerômetro, que poderá ajudar a entender como as atividades diárias da baleia azul influenciaram na frequência cardíaca. É possível testar também esta tecnologia desenvolvida com outras espécies de baleias como, por exemplo, a jubarte e as minke. David diz que:
"Muito do que fazemos envolve novas tecnologias e muitas delas dependem de novas ideias, novos métodos e novas abordagens. Estamos sempre procurando ultrapassar os limites de como podemos aprender sobre esses animais."
O que você achou desta inovação na pesquisa sobre o comportamento animal destes grandes mamíferos marinhos? Comente abaixo e compartilhe conosco a sua opinião!
Fonte: Stanford news
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